Nunca Alberto vira, no mundo já
trilhado, maior fúria dos elementos. Sob a rajada, a selva cada vez arfava
mais, rangia por toda a parte e dir-se-ia prestes a destruir-se no intenso clamor.
Era fantástica e alucinante no seu sinistro ulular, a que só punha breve pausa
o estampido do trovão, que abalava toda a terra. Depois, de algures, reboando
com secura, chegava o alarido forte de grande tronco rasgado de alto a baixo
pelo rio. Era um estralejar nervoso que aquietava em pânico todos quantos o
ouviam. Os trovões sucediam-se e os relâmpagos entrelaçavam-se numa doida
apoteose de mundo falido. E, de quando em quando, vinha de longe, surdamente, a
nota grave de colosso que o vendaval tombava, na barulheira, na barulheira da
selva endemoniada.
Caíram, depois, uns pingos grossos e logo a bátega
desabou. Firmino, olho à direita, olho à esquerda, descobriu, por fim, abrigo e
foi encalhar a piroga entre dois velhos troncos. Lá estava, mais além, a
sapopema entrevista.
- Depressa, seu Alberto, senão
fica mesmo como um pinto!
Ferreira de Castro. A selva, Porto, Civilização, [1930], pp. 192 e 193
Descrição impressionante de uma tempestade na selva... Ferreira de Castro maneja os verbos e os adjetivos de forma expressiva e magistral.