Li finalmente Quem
me dera ser onda, do escritor angolano Manuel Rui, e descobri uma história divertida na
qual tudo gira em torno de um elemento alegórico: um porco, ou melhor, um
leitão, chamado, imagine-se, Carnaval da
Vitória.
Mais estranho do que o seu nome é o facto de Carnaval da Vitória morar num
apartamento de um sétimo andar. Enquanto o dono da casa pretendia engordá-lo
para servir de refeição, a mulher e, sobretudo, os filhos tratavam-no com o desvelo
de um membro da família. A chegada deste novo morador cria um ambiente
subversivo e sugere um «mundo às avessas», modificando a maneira de viver dos
que o rodeiam e dando origem a cenas engraçadas. As crianças escondem-no de um
fiscal; levam-no para a escola e transformam-no no tema central das suas
composições, pondo “uma escola inteira a dissertar sobre um porco”, em vez de
exercitarem a criatividade escrevendo sobre temas populares e valores nacionais
(p. 46); o porco é um ouvinte assíduo, embora forçado, de rádio, evitando-se,
assim, que “fale”; graças a Carnaval da
Vitória e a um bem pensado estratagema das crianças, a família passa a
comer peixe e carne de porco… Símbolo da revolução social e da amizade entre crianças,
é também através do animal que se critica um sistema educativo alienado e a
hipocrisia humana. Tudo apimentado por um sentido de humor e uma fina ironia que
perpassam, do princípio ao fim, este livro, justo vencedor do Prémio Nacional
Agostinho Neto.
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