O JARDIM QUE OS DEUSES ME DERAM
Todas as manhãs (ou quase) saio para o campo
mexo na terra abro tocas para novas raízes
assisto ao parto duma folha ou duma flor
(ao nascer todas as vidas são o mesmo enternecedor
milagre)
e isto sem sair da
minha varanda
estuante de verde
de vasos de todos os tamanhos
de plantas de todas as cores e feitios.
Este o jardim que os deuses me deram.
Se fosse maior
e a sério se calhar não conseguia cuidar dele.
Fecho os olhos e estou na selva. Oiço os pássaros
inúmeros.
Cheiro a seiva
na brisa.
O meu jardim
é pequeno como a minha vida. Como todas as vidas.
Também a Terra não é mais do que um quintal
do Universo.
Que digo
eu? Que um canteiro.
Ou melhor: um pequeno vaso.
Tamanho de um dedal.
Mas qual do Universo! De uma galáxia
se tanto.
Ou talvez só do nosso sistema solar.
Somos tão ínfimos
que só podemos amar coisas à nossa dimensão.
Por isso
é que se Deus houvesse o não poderíamos amar.
Só deuses pouco maiores do que nós. Ou Jesus. Ou Buda.
Ou o pequenino ser amado em que ocasionalmente
a divindade encarna.
Tão inexplicavelmente.
Teresa Rita Lopes. O sul dos meus
sonhos
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