Reabre o céu depois de uma chuvada
no azul do dia.
É o azul do nada com que se fazem os deuses e a poesia.

Vergílio Ferreira


28/06/2014

Um nome escrito no tempo

Teu nome antes mesmo do caderno
Teu nome na negra lousa eu o escrevi
Eu o escrevi e apaguei e se perdeu e renasceu
Teu nome efémero teu nome eterno
Teu nome onde eras tu mesmo sem ti
Teu nome eu o escrevi eu o perdi
Teu nome que saiu das folhas para o mundo
Apesar da tinta que lentamente esmaeceu
Teu nome eu o escrevi e se inscreveu
De tal modo dentro de mim tão fundo
Que já não sei se és tu ou eu.

Teu nome em toda a parte eu o escrevi
Nas árvores nas águas nas areias
No caderno e na lousa o andei compondo
No sangue que circula em minhas veias
Teu nome eu o perdi eu o perdi
E quando chamo eu mesmo é que respondo.


Manuel Alegre. Livro do português errante

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