Reabre o céu depois de uma chuvada
no azul do dia.
É o azul do nada com que se fazem os deuses e a poesia.

Vergílio Ferreira


04/06/2014

Deliciei-me outro dia com este jogo de palavras, olhos e “coraçom”. Na poesia trovadoresca estão as nossas raízes, o nosso início. Para ler devagar.

Queixei-m'eu destes olhos meus;
mais ora, se Deus mi perdom!,
quero-lhis bem de coraçom,
e des oimais quer'amar Deus;
       ca mi mostrou quem hoj'eu vi:
       ai! que parecer hoj'eu vi!

Sempre m'eu d'Amor queixarei,
ca sempre mi dele mal vem;
mais os meus olhos quer'eu bem,
e já sempre Deus amarei;
       ca mi mostrou quem hoj'eu vi:
       ai! que parecer hoj'eu vi!

E mui gram queixum'hei d'Amor,
ca sempre mi coita sol dar;
mais os meus olhos quer'amar,
e quer'amar Nostro Senhor;
       ca mi mostrou quem hoj'eu vi:
       ai! que parecer hoj'eu vi!

E se cedo nom vir quem vi,
cedo morrerei por quem vi.


João Garcia de Guilhade

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