Reabre o céu depois de uma chuvada
no azul do dia.
É o azul do nada com que se fazem os deuses e a poesia.

Vergílio Ferreira


17/11/2012

Busquei num ermo Algânia feiticeira,
Que de abrasado feixe a par jazia;
Fui ver se atro conjuro me extorquia
Do laço antigo esta alma prisioneira.

Expus-lhe minha fé, minha cegueira,
Tracei meus males, e a rugosa estria
Cedendo à ternas mágoas que me ouvia,
Cuspiu três vezes na voraz fogueira.

Trémulas preces murmurou, e eu mudo;
Eis que as melenas, em sinal de espanto,
Eriça com semblante carrancudo.

«Meu rito é vão (me diz) e é vão teu pranto;
O poderoso Amor zomba de tudo,
Não vence encanto algum de Amor o encanto.»

Bocage

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