Reabre o céu depois de uma chuvada
no azul do dia.
É o azul do nada com que se fazem os deuses e a poesia.

Vergílio Ferreira


17/01/2013

Volto-me a estar calmo – olho para as coisas que não estão à minha volta e vejo-me a contar-lhe futuros num cenário perfeitamente rústico. Ela deixa-se levar pelo que não digo e fica pensativa ao ver-me tão calmo. O que terá acontecido?

As horas iguais vão passando num cadenciar sem fantasmas – de vez em quando sobem uns ruídos de silêncio que me atemorizam, são espiões de mim sem me poder estacionar. As estrelas da noite riem-se, a lua está lá por trás num coito de fase satélica, os morcegos gritam-se de meter medo e o azul carregado de imensidão absorve de mata-borrão toda a claridade. Não sei onde me hei-de meter. Deixo-me ficar calado para sentir o apunhalar das badaladas ao longe. Paro-me.

Vou mesmo a cair de sono encostar-me à parede para não deambular mais – aos poucos surpreendo-me ainda acordado para recordações que não me podem pertencer. Preciso de um estimulante. – Talvez a madrugada me dê um Te-Deum de luz. – Há um mundo que acaba nos sucos possíveis junto à grade da minha janela. Estou-me novamente só. Já nem me tenho a mim para falar – é o deserto total de lusco-fusco onde se ouve de tempos a tempos um estridente felino ou uma aurora boreal. As pessoas estão todas encaixadas nas casas e presas às suas camas – a vida parece um jogo de guaritas e eu um guarda-nocturno apaixonado. Quero sair do beco onde não estou e experimentar o fumo da fábrica que sobe pela manhãzinha. E Ela?

Ruben A. Caranguejo

Sem comentários:

Enviar um comentário